quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Estrangeira

No meu último aniversário ganhei de presente um guia de leitura: 100 autores que você precisa ler. Fazia algum tempo que eu vinha querendo uma lista pra me ajudar nessa falta de critério que é a minha escolha por livros. Claro que eu não preciso - e nem quero - seguir a risca: tem sempre aquela surpresa boa que não está lá, aquela oportunidade que aparece e você se joga, aquele fresquinho que acabou de sair do prelo. Mas, sim, queria essa ajudinha e recebi.


O primeiro da lista é Camus: "Ingresse no mundo de Camus, mesmo sabendo que pode voltar com a alma a arder". Eu ingressei, ainda que não por causa da ordem alfabética. Achei lá na biblioteca, meio sem querer, e o trouxe junto com o Noll e o Le Clézio.


"Seus romances registram uma visão desesperançada da condição humana", me conta o livrinho. E eu devorei as 126 páginas de O Estrangeiro em pouquíssimo tempo.


O livro, escrito em 1957 pela pena do existencialismo, conta a história de Mersault, homem de vida banal, ordinária, que recebe com indiferença os acontecimentos da sua vida. Ao cometer um crime - matar, sem motivo, um árabe - é julgado e condenado à morte. Assim, num ímpeto, as coisas vão acontecendo, as páginas vão minguando e o nosso personagem pouco se dá. Num último suspiro é que se percebe algum tipo de centelha. Que também não ateia.


Terminei de ler e corri para a contra-capa do Le Clézio, achando que tinha lido ali uma definição perfeita: "Terminada a leitura, estamos esvaziados, como se tivessem nos submetido a uma misteriosa provação física". Era exatamente assim que eu me sentia: esvaziada das esperanças, arrastada por um corrente de desinteresse. A contra-capa de A Quarentena me diz que isso é "privilégio das grandes obras, que nos dão a verdadeira medida de uma experiência literária". Talvez seja isso. A verdade é que ingressar nesse volume tão fininho de Camus fez minha alma arder.

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